O pesquisador, escritor e jornalista bielorrusso Evgery Morozov está percorrendo cidades brasileiras como São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, além de países como Chile e Argentina, para discutir os riscos da dependência das Big Techs. Em uma palestra na Universidade de Brasília, Morozov argumentou que o Brasil e outros países sul-americanos devem buscar autonomia tecnológica. “Estamos pagando cada vez mais por serviços e infraestruturas que deveríamos desenvolver sob nosso próprio domínio, assim como controlamos nossas infraestruturas fundamentais como petróleo e eletricidade”, ressaltou.
O papel do estado na tecnologia
Morozov, que reside na Itália, afirma que a regulação das plataformas digitais não basta. Ele vê a soberania tecnológica como pré-requisito para a soberania econômica. “Apenas o Estado pode liderar uma transformação digital capaz de contrabalançar o poder das Big Techs“, observou. Segundo ele, o Estado deve investir em setores emergentes e promover novos empreendimentos em tecnologia, desde microprocessadores para 5G até Inteligência Artificial (IA).
Desafios e oponentes
Contudo, Morozov alerta que essa agenda enfrentará oposição, tanto de corporações quanto de agências de segurança nacional, como a CIA. “A única maneira de concretizar essa visão é com o Estado usando todo o seu poder e burocracia para se proteger contra ameaças de subversão”, destacou. Ele citou o exemplo da China, que tem investido pesadamente em tecnologias como semicondutores e 5G, apesar das medidas dos EUA para impedir tal avanço.
Investimento e transformação digital
Em suma, Morozov conclui que o desenvolvimento de infraestruturas digitais alternativas exigirá um investimento significativo, que só o Estado pode financiar. “Empresas como Google e Amazon investem entre US$ 10 bilhões e US$ 15 bilhões por ano em tecnologia”, disse. Ele também ressaltou que tecnologias como IA e 5G não são apenas cruciais para o setor de tecnologia, mas também fundamentais para a transformação digital em setores como agricultura, indústria e finanças.